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Cada vez mais, no tempo em que vivemos, a realidade é mediada por imagens que produzimos. O que se observa é a crescente necessidade do ser humano de dizer algo a respeito de si mesmo para a maior quantidade possível de pessoas. É importante ressaltar que tais imagens ora se comunicam com a realidade de cada um, ora constituem-se mera espetacularização do trivial. Assim, verdadeiras ou falsas, todas as imagens são forjadas. Isso porque a imagem não é a realidade e à despeito do quão fiel se pretenda ser, é inanimada e jamais traduzirá por completo existência.

Onde não há vida, a vida não se traduz.

Entretanto, vivemos para forjar imagens de nós mesmos. Na era da compressão espaço-tempo[1], as relações se fluidificaram e o presente ascende como protagonista, de modo que é preciso exibir ao mundo o que acontece “aqui e agora”. Maravilhados com o “tempo real”, buscamos nos apresentar “interessantes” ao público e esquecemos o quanto isso pode se tornar cansativo. Viramos reféns da imagem que produzimos de nós mesmos e não percebemos o quanto nos tornamos patéticos.

Você não é o que diz ser.

Muitas vezes em conflito com o que desejamos apresentar, a sociedade – ou o grupo ao qual estamos atrelados – também espera algo de nós. Invariavelmente respondemos à esse clamor e forjamos outra imagem, fruto desse anseio social. Assim, obedecemos a códigos de conduta moral que nos identificam com o grupo, revelando as imagens que “devemos” apresentar ao mundo.

Você não é o que a sociedade quer que seja.

Somado à esses dois polos – indivíduo e sociedade – ressalta-se um terceiro, que via de regra aparece como mediador das relações sociais. Tudo o que é produzido e consumido está dotado de valor simbólico e serve para traduzir uma multiplicidade de perfis. Tal verdade é tão dura que, na medida em que se perde capacidade produtiva e, consequentemente, poder de consumo, a vida em sociedade esvazia-se de significado. Envolvido por esse ciclo, o valor do homem está no seu potencial produtivo e sua identidade no que consome.

Você não é o que produz e consome.

A Bíblia diz em Gênesis 1:26, que DEUS fez o homem à Sua imagem e semelhança, lhe dando o direito e dever de exercer domínio sobre o restante da criação. O que ELE imprime no homem, assim como a atribuição que lhe confere, diz algo à respeito dELE. Em nós, DEUS forjou Sua imagem. A diferença elementar entre a imagem que ELE forja e as imagens que produzimos é que a dELE tem vida. Além disso, essa imagem não é um fragmento da realidade, ela é a própria realidade. A imagem do Criador se traduz na existência humana, pois onde há vida, a Vida se traduz.

A Palavra diz quem você é.

 

[1] Conceito criado por David Harvey para explicar a condição do homem na pós modernidade.