Um detalhe que sempre chama à atenção de quem lê a história de Davi x Golias é a armadura. De um lado, o gigante, com todo o seu aparato de guerra: capacete de bronze, couraça, caneleiras de bronze, dardos de bronze, lança com ponta de ferro e um escudo, carregado por outro homem, fora sua espada (1 Samuel 17:5-7). Uma conta rápida sugere que tudo isto pesava algo em torno de 60kg. Do outro lado, Davi, que foi para a luta sem nada, com um cajado, que ele deixou à mostra, e sua funda, dobrada em suas mãos com as cinco pedras escondidas entre sua roupa (1 Samuel 17:40). Esta tática fez com que Golias o desprezasse, pois ele só viu o cajado (1 Samuel 17:43) e deu a Davi a distância necessária para acertar o filisteu no meio da testa.
Esta parte desta história esconde uma ironia anterior. Antes de sair ao combate de maneira “civil”, Saul, o rei, conhecido por sua estatura (1 Samuel 9:2), lhe oferece sua própria armadura, constituída de capacete de bronze, couraça e espada (1 Samuel 17:38-39) –basicamente os mesmos elementos, descritos com praticamente as mesmas palavras. A ironia é que, como Golias, Saul também era alto e, como Golias, Saul também tinha uma armadura de guerra. Além disto, Golias era um homem experimentado na guerra, guerreiro conhecido (1 Samuel 17:33) e Saul, em teoria, também era um homem experimentado na guerra, pelo menos desde que assume o reinado. Ou seja: Saul e Golias tinham muita coisa em comum, mas Saul temeu e, por isso, Davi venceu uma batalha que Saul deveria ter lutado.
A história também mostra a inovação de Davi no campo militar. Ele não segue a tática esperada, ele não vai para a luta como se esperava que ele fosse. Outra ironia: os paradigmas da experiência convencional de guerra são rompidos pelo jovem pastor. Davi sai do lugar comum para vencer o invencível, com a ajuda de DEUS. Agindo assim, Davi expõe a fraqueza do rei. Agindo assim, Davi expõe a fraqueza da lógica humana.
Uma parte interessante é notar que Saul não está preparado para este rompimento. Em 1 Samuel 14 seu filho Jônatas já havia quebrado paradigmas para vencer os filisteus. Saul gostava de controlar a maneira com que a guerra aconteceria, mas ao mesmo tempo, seu medo da derrota freqüentemente o tornava inerte e, nos dois casos, jovens precisaram tomar atitudes audaciosas –e fora dos paradigmas de sua época– para vencer batalhas que o rei deveria ter vencido.
O comportamento de Saul –querendo controlar o exército, mas inerte e preso a paradigmas de guerra, pensando com a lógica humana, com as táticas humanas– se repete. Precisa-se de “meninos” como Jônatas e Davi para lembrar a frase de Paulo aos Coríntios: “Porque a loucura de Deus é mais sábia do que os homens; e a fraqueza de Deus é mais forte do que os homens.” (1 Coríntios 1:25). Vez ou outra imaginamos estar seguindo o Eterno, mas o fazemos dentro dos nossos paradigmas, envoltos em nossa sabedoria, força, medos e inseguranças e quando expostos aos que, chamados por DEUS e confiando nELE, agem fora destes nossos parâmetros humanos, agimos como Saul nos dois casos: perseguindo Davi e quase matando o próprio filho, Jônatas.
Uma importante característica de um homem ungido para liderar o povo de DEUS deve ser saber ouvir a Sua voz para além de seus próprios ouvidos, ou seja, estar disposto a ver que ELE pode usar a qualquer um e de maneiras completamente inusitadas.