Os textos #78 e #90 trataram do rei Ezequias. Mais uma vez, voltemos à sua história, desta vez em sua última parte. Esta última seção da narrativa é introduzida pela expressão “naquele tempo” (baet hahi – בָּעֵת הַהִיא). O tempo da história parece ser próximo da vitória de Judá sobre a Assíria e, principalmente, próximo da cura de Ezequias. Este recebe a visita de mensageiros da Babilônia com cartas e um presente de seu rei.
Ele mostra aos mensageiros tudo que havia em Judá: “nenhuma coisa houve, nem em sua casa, nem em todo o seu domínio que Ezequias não lhes mostrasse” (2 Reis 20:13b) e “Viram tudo quanto há em minha casa; coisa nenhuma há nos meus tesouros que eu não lhes mostrasse” (2 Reis 20:15b). O profeta Isaias repreende severamente o rei, prometendo o saque dos bens e até que os descendentes reais seriam eunucos no palácio do rei da Babilônia (2 Reis 20:17-18).
A repreensão parece demasiadamente dura, mas o narrador claramente nos dá pistas do porquê: em um curto espaço de texto, ele enfatiza isto, repetindo a mesma idéia seguidamente: tudo o que Ezequias mostrou era material. A ênfase não é despropositada, mas visa demonstrar a conexão entre o rei e o que ele tinha. As bênçãos da aliança –prosperidade e paz– haviam direcionado seus olhos para sua riqueza e tirado seus olhos daquELE que lhe deu as bênçãos e que confirmou com ele a aliança feita com Davi, com Abraão, Isaque e Jacó.
Ezequias esqueceu de um mecanismo básico da aliança: a benção é dada para abençoar os outros. Em Gênesis 12:1-3 este mecanismo fica claro: DEUS promete abençoar Abraão para que ele se tornasse uma benção para os outros. O depositário das bênçãos não é o fim, mas o meio para que DEUS abençoe os outros, a humanidade. O que ELE nos dá e faz por nós é um caminho e não o fim. Porque é através do que ELE faz em nós e por nós que outros serão abençoados através de nós.
Como um menino mimado, o rei Ezequias quis mostrar o que ele tinha. Diversas vezes, como religiosos nas mais diversas denominações, nos comportamos como ele: mostramos o que temos, o quanto ELE nos dá, o quanto ELE nos abençoa. Mimados, ficamos como uma criança dizendo: “eu tenho e você não tem”.
Esquecemos que o chamado não é para termos as bençãos, mas para sermos a benção. O chamado não é para sermos um fim em nós mesmos, mas um caminho para que ELE chegue até outros e os abençoe. O convite é para que partilhemos o que dELE recebemos.