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Onde habita o DEUS bíblico? Em que lugar sua glória se manifesta? Logo depois de fazer uma aliança com Israel, no clímax do relacionamento entre DEUS e Seu povo, Ele ordena que se faça um santuário para que Ele habitasse no meio dos filhos de Israel (Êxodo 25:8). É pelo santuário que DEUS habita entre o povo. DEUS cumpre Sua palavra capítulos depois, quando o livro do Êxodo narra a conclusão da construção do santuário.

“[…] Assim Moisés acabou a obra […] Então a nuvem cobriu a tenda da congregação, e a glória do Senhor encheu o tabernáculo; de maneira que Moisés não podia entrar na tenda da congregação, porquanto a nuvem permanecia sobre ela, e a glória do Senhor enchia o tabernáculo.” (Êxodo 40:33-35)

A “glória do Senhor” é a manifestação intensa da sua presença. A palavra “glória” no hebraico (kavod – כבד) tem uma conotação de peso, densidade. No momento que se conclui a construção do tabernáculo, a presença do Senhor enche o lugar de forma tão intensa que Moisés não pode permanecer ali. DEUS passa a habitar no meio do povo. Uma outra passagem da bíblia apresenta os mesmos elementos:

“E sucedeu que, saindo os sacerdotes do santuário, uma nuvem encheu a casa do Senhor. E os sacerdotes não podiam permanecer em pé para ministrar, por causa da nuvem, porque a glória do Senhor enchera a casa do Senhor.” (1 Reis 8:10-11)

Na consagração do primeiro templo, construído por Salomão, a mesma manifestação divina da “glória do Senhor” toma o lugar. Mais uma vez a nuvem. Mais uma vez, a presença divina se faz tão intensa que é insuportável para os homens. Ainda um outro detalhe, mais sutil, faz a relação entre os textos, pois a mesma expressão que descreve a conclusão do templo, “e terminou a obra” (vaychal… et hammela’chah), antecede a manifestação de DEUS:

“[…] Assim Moisés acabou a obra […]” (Êxodo 40:33)

“Assim se acabou toda a obra que fez o rei Salomão para a casa do Senhor […]” (1 Reis 7:51)

Esta expressão aparece ainda mais uma vez, agora na conclusão do segundo templo, na volta do exílio babilônico:

“E edificaram e terminaram a obra conforme ao mandado do DEUS de Israel […]” (Esdras 6:14)

Neste último texto, entretanto, não há na sequência a mesma manifestação da glória de DEUS como nos exemplos anteriores. Não há uma descrição da nuvem, nem de homens tendo que deixar o lugar para que a presença de DEUS se estabeleça. A glória de DEUS no segundo templo aparece apenas num texto profético:

“E farei tremer todas as nações, e virão coisas preciosas de todas as nações, e encherei esta casa de glória, diz o Senhor dos Exércitos […] A glória desta última casa será maior do que a da primeira, diz o Senhor dos Exércitos […]” (Ageu 2:7+9)

Mesmo não havendo uma manifestação miraculosa da glória divina neste segundo templo, esta é a casa onde Jesus, a mais intensa manifestação da presença de DEUS, esteve, como profetizado por Malaquias (3:1) e descrito por João:

“E o Verbo se fez carne e tabernaculou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos Sua glória como a do unigênito do Pai […]” (João 1:14, tradução própria)

Esta mesma idéia, a da presença especial de DEUS através de Jesus, de sua glória manifestada intensamente, é apresentada em Apocalipse como uma característica da Nova Jerusalém:

“Então, ouvi grande voz vinda do trono, dizendo: Eis o tabernáculo de DEUS com os homens. DEUS habitará com eles. Eles serão povos de DEUS, e DEUS mesmo estará com eles. E lhes enxugará dos olhos toda lágrima, e a morte já não existirá, já não haverá luto, nem pranto, nem dor, porque as primeiras coisas passaram. E aquele que está assentado no trono disse: Eis que faço novas todas as coisas. E acrescentou: Escreve, porque estas palavras são fiéis e verdadeiras. Disse-me ainda: Tudo está feito. Eu sou o Alfa e o Ômega, o Princípio e o Fim. Eu, a quem tem sede, darei de graça da fonte da água da vida. O vencedor herdará estas coisas, e eu lhe serei DEUS, e ele me será filho.” (Apocalipse 21:3-7)

Ou seja, o DEUS bíblico habitou e habitará especialmente no mundo através de Seu santuário com os homens, através de Jesus.

Mas e hoje, já que o segundo templo foi destruído pelos romanos e nunca mais foi construído um outro santuário e ainda não temos o trono de Jesus e nem Nova Jerusalém? Em que lugar sua glória se manifesta? Isaías responde:

“[…] eu vi também ao Senhor assentado sobre um alto e sublime trono; e a cauda do seu manto enchia o templo. Serafins estavam por cima dele; […] E clamavam uns aos outros, dizendo: Santo, Santo, Santo é o Senhor dos Exércitos; toda a terra está cheia da sua glória. E os umbrais das portas se moveram à voz do que clamava, e a casa se encheu de fumaça.” (Isaías 6:1-5)

Os serafins afirmam que “toda a terra” está cheia da glória de DEUS. Ao descrever a criação do mundo, Gênesis usa a mesma expressão que aparece na conclusão do tabernáculo do deserto e dos dois templos: DEUS “terminou a Sua obra” (Gênesis 2:2). O mundo todo é o santuário de DEUS. Toda a criação também é o lugar da Sua habitação (Isaías 66:1-2). A glória do Senhor, sua manifestação, enche toda a terra. Não da maneira como se dá no santuário ou através de Jesus, mas como testemunhas do Seu poder e reinado.

Diante do esplendor do sublime, Moisés e os sacerdotes recuaram aturdidos, conscientes de que não lhes era suportável permanecer na presença da Santidade e da glória de DEUS.

Nós prosseguimos de olhos fechados para todas as testemunhas de Sua glória e para a Sua própria presença, através do Espírito, em tantos momentos. Frios, impassíveis, com desassombro.

“Toda terra está cheia da Sua glória”, dizem os serafins. Toda a terra é obra de Suas mãos. Onde você estiver, tire suas sandálias, pois de certa maneira, você está em uma terra santa, diante da manifestação da Sua glória.

Rolnei Tavares