É impressionante notar o papel das religiões na cultura (ou talvez o contrário, dependendo da escola de pensamento a que você pertença). Por ser polissêmica, a religião pode abarcar qualquer compreensão a respeito de si mesma; e aqui defino o papel da cultura neste processo, pois à medida em que nossas complexas relações se desdobram, o papel da religião (assim como a resposta que damos a ela) sofre alterações inevitáveis, tornando-se, assim, expressão imediata dos valores produzidos pelo homem. Entretanto, como alternativa ao anteriormente afirmado, no campo da fenomenologia, entende-se que o exercício de determinadas religiosidades sempre será carregado de um ferramental que possibilite a relação do homem com a mesma, e é dentro deste contexto que é pertinente pena citar o medo.
O medo integra a história da humanidade –sendo ele instintivo pela auto-preservação e sobrevivência, ou socialmente produzido– e no tempo em que vivemos, quando o assunto é a religião à qual pertencemos (como falei anteriormente, por ser polissêmica, aqui ouso identificá-la como uma instituição religiosa), o medo pode também ser entendido como uma eficaz ferramenta de manipulação. Lembro-me que poucas vezes vi a minha igreja tão cheia quanto no culto do dia 12 de setembro de 2001. O medo desenfreado pelo iminente “apocalipse”, que por consequência traria sobre a terra o juízo divino, acarretou as mais variadas elocubrações sobre o “tempo do fim”. Ou ainda, não me escapa da memória o dia em que amigos me contaram a respeito de um rapaz que se dizia ex-pactuante com o diabo. O curioso testemunho do rapaz, contado obviamente dentro de uma igreja, vinha repleto de ensinamentos a respeito das artimanhas do adversário para confundir o “santos homens” de DEUS, chegando inclusive a revelar que tipo de roupas, músicas e comportamentos mais agradavam o “inimigo de nossas almas”. As pessoas que me relatavam o acontecimento diziam: “a igreja estava lotada e parecia que ninguém respirava de tão silenciosa”.
O pavor da morte, do fim do mundo, do tenebroso juízo divino, do mar de fogo destinado aos ímpios, etc, tem mais poder para encher uma igreja e movimentar –ou manobrar– o “povo de DEUS” na direção de objetivos institucionais específicos do que o simples convite para lá estar e se juntar a outras pessoas na promoção do bem e da justiça (Reino de DEUS). Definitivamente, no tempo em que vivemos, o medo da ação de um capeta caricato se tornou mais eficiente em nossos ajuntamentos do que a doçura trazida pela presença de um DEUS que na Bíblia se revela essencialmente amoroso.
Embora eu ainda seja alguém adoecido por alguns medos, posso dizer que diante do que assistimos em nossos ajuntamentos, nada mais me assusta.
“No amor não há medo; pelo contrário o perfeito amor expulsa o medo, porque o medo supõe castigo. Aquele que tem medo não está aperfeiçoado no amor” (1 João 4:18)