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Tenho andado me preocupando a respeito de como tradicionalmente se apresenta a religião bíblica e até mesmo em como eu –pela maioria do tempo em que estou vivo e na maioria das vezes– a tenho apresentado.

Dizemos frases como “vem pra Jesus”, “aceita a Cristo” e “deixa DEUS transformar tua vida”, mas evidentemente não há um consenso em relação ao que se quer dizer com isto. De que tipo de transformação estamos falando?

Há quem creia que a religião bíblica possa promover a ascensão sócio-econômica de seus fiéis. E, dependendo do caso, ela pode. Há quem diga que, com base na religião bíblica, se possa curar toda e qualquer enfermidade física. E, sem sombra de dúvidas, há esta possibilidade. Há quem defenda que a religião bíblica seja antídoto para a depressão e a baixa auto-estima, que ela seja provedora de paz interior para quem está aflito, e de um estilo de vida que garanta saúde e bem-estar, que o estudo da Palavra enobrece o espírito, que haja até benesses intelectuais para quem reflita nas mensagens ali contidas… a lista de vantagens parece eterna.

Meu interesse aqui não é contestar afirmações deste tipo. Mas noto que elas têm algo em comum: todas elas acabam por incentivar e alimentar o egocentrismo inato do ser humano. Vou em busca do Eterno porque algo ME falta, pra satisfazer uma necessidade MINHA, pra ME sentir bem. E não sei se há uma diferença tão fundamental entre buscar, através da religião, o carro do ano, uma cura miraculosa, saúde e bem-estar ou paz interior, simplesmente. Em essência são buscas egoístas (que têm o “eu” como centro).

Isto está em contraste com a Palavra.

“E far-te-ei uma grande nação, e abençoar-te-ei e engrandecerei o teu nome; e tu serás uma bênção. E abençoarei os que te abençoarem, e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; e em ti serão benditas todas as famílias da terra.” (Gênesis 12:2-3, negrito acrescentado)

Em, talvez, o texto mais clássico utilizado para prometer bênçãos sem medida aos fiéis, a “grandeza” de Abraão não provem de quanto ele é abençoado, mas de quanto ele abençoa. Ele não recebe bênçãos de D-S porque ele é importante, mas ele se torna importante pelo que ele provê de bênçãos para o mundo.

Estranhamente parecido com Marcos 10:44 em que Jesus afirma que “[…] qualquer que dentre vós quiser ser o primeiro, será servo de todos.”

Que contraste com hoje em dia, em que até quando vou realizar trabalhos de assistência social, o faço porque, ao o fazer, EU me sinto bem, EU me sinto útil, quando o que Ele mais quer é me libertar do peso de viver em função de mim, mesmo; e –paradoxo dos paradoxos– há até quem “busque primeiro o Reino de DEUS, e a sua justiça” apenas para que “todas estas coisas lhe sejam acrescentadas” (Matheus 6:33).