Israel havia vencido duas grandes guerras: uma contra o rei Seom e outra contra Ogue. Heshbon e Basã, cidades fortificadas, com muralhas gigantescas e exércitos numerosos, ao atacarem Israel, foram destruídas (Números 21).
As duas batalhas possuem diferenças interessantes: contra Seom (Heshbon), mensageiros são enviados para pedir passagem (Números 21:21-22); contra Ogue (Basã), não há envio de mensageiros. Ambos os reis saem para guerrear contra Israel, numa clara demonstração de hostilidade. Entretanto, Basã fazia parte do que era a terra prometida a Israel e Heshbon não.
Balaque, rei dos moabitas, tendo conhecimento destas duas vitórias retumbantes de Israel, resolve usar uma nova tática antes de atacar: amaldiçoar o povo de DEUS usando um profeta. Balaão é este profeta e a história dele guarda algumas nuances interessantes.
Balaão recebe visitas do rei Balaque que lhe expõe a situação. De maneira estranha, além de ouvir a proposta, ele resolve consultar o Eterno para saber o que Este pensava a respeito de amaldiçoar Seu povo. Balaão recebe uma resposta divina clara: “Não irás com eles, nem amaldiçoarás o povo; porque é povo abençoado” (Números 22:12). Balaque ouve a resposta, mas resolve insistir e envia mensageiros mais honrados e mais presentes. Balaão, mesmo já tendo uma resposta divina quanto ao pedido, decide consultar a DEUS de novo ao que Ele responde: “Se pra te chamar para ir vierem aqueles homens, levanta e vai com eles” (Números 22:20). O interessante é que Balaão não espera os homens virem chamá-lo na manhã seguinte; é ele quem levanta e parte em direção a Moabe! Consequentemente, o Eterno fica irado. A desobediência de Balaão havia sido acintosa. A vontade de Balaão estava acima da vontade divina. Ele não liga para os pormenores daquilo que Deus lhe diz.
O que acaba acontecendo a seguir é uma das histórias mais bizarras e conhecidas da Bíblia: a jumenta falante. Balaão se dirige com os príncipes de Moabe para o lugar de onde deveria amaldiçoar o povo de Israel, conforme o desejo de Balaque. No caminho, sua jumenta faz movimentos bruscos e irrita o profeta por duas vezes, primeiro desviando do caminho e depois prensando o pé de Balaão contra um muro. Nas duas vezes o texto enfatiza uma frase: “viu a jumenta o Anjo de YHWH” (Números 22:23, 25). Na terceira vez, novamente “viu a jumenta o Anjo de YHWH” (Números 22:27) e desta vez empacou e jogou Balaão ao chão. Então segue o surreal: “Então, o Senhor fez falar a jumenta, a qual disse a Balaão: Que te fiz eu, que me espancaste já três vezes? Respondeu Balaão à jumenta: Porque zombaste de mim; tivera eu uma espada na mão e, agora, te mataria. Replicou a jumenta a Balaão: Porventura, não sou a tua jumenta, em que toda a tua vida cavalgaste até hoje? Acaso, tem sido o meu costume fazer assim contigo? Ele respondeu: Não.” (Números 22:28-30 – ARA).
A jumenta, que vê o que Balaão não vê, também fala! E Balaão, questionado pela jumenta, responde. Uma das coisas que chama a atenção na Bíblia é exatamente essa capacidade de contar histórias tão surreais sem que elas pareçam surreais, quer dizer, Balaão não fica espantado com a jumenta falante, ele a escuta e responde!
A chave dessa história, entretanto, está no verso 31: “E abriu YHWH os olhos de Balaão.” Este verso ressoa, inclusive, na fala de Balaão depois, quando ele se intitula “homem de olhos abertos” (Números 25:3, 15).
A vontade do profeta o deixou cego. O desejo por ganhos materiais cegou o profeta. Cego, não conseguiu ver o Anjo de YHWH.
Como Balaão, muitas vezes precisamos de ‘jumentas’ para nos fazer enxergar o que preferimos ignorar quando buscamos o benefício próprio em detrimento da missão e da vontade de DEUS.
Que DEUS abra nossos olhos.