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Na Bíblia nos deparamos com várias situações em que o poder/posição de DEUS tenta ser usurpado. Isto é evidente, por exemplo em Daniel 1, quando Nabucodonosor se porta como o deus da Babilônia, determinando sobre a vida de todos.

Outro exemplo desta tentativa de tomar prerrogativas divinas é o caso do Faraó. Apesar de em Êxodo 5:2 percebermos a arrogância do faraó quanto ao DEUS de Israel (“Quem é o Senhor para que lhe ouça a voz e deixe ir a Israel? Não conheço o Senhor […]”), em Ezequiel 29 isso parece se tornar ainda mais evidente.

Advertindo o povo de Israel sobre os perigos das alianças próximo ao período do exílio Babilônico, Ezequiel 28 apresenta o início de uma série de julgamentos divinos contra alguns inimigos vizinhos. A partir do capítulo 29 (até o capítulo 32), a temática é voltada unicamente ao Egito e seu líder. Em Ezequiel 29 são apresentadas promessas de julgamento divino tanto contra o Egito como contra o Faraó. No verso 2, por exemplo, é dito a Ezequiel: “Filho do homem, volve o rosto contra Faraó, rei do Egito, e profetiza contra ele e contra todo o Egito”.

Estas promessas de julgamento divino também aparecem em Êxodo 7:4, quando é dito: “Faraó não vos ouvirá; e eu porei a mão sobre o Egito e farei sair as minhas hostes, o meu povo, os filhos de Israel, da terra do Egito, com grandes manifestações de julgamento”.

Em Êxodo vemos um julgamento caindo sobre o Egito e seu Faraó que culmina com a libertação de Israel. E em Ezequiel vemos um segundo julgamento sobre o Egito e o Faraó que culmina com promessa de ajuntamento e vitória. No exílio, o povo deveria olhar para os eventos da sua história como um padrão recorrente de atos divinos de redenção. Através de Seus atos, DEUS seria outra vez reconhecido como a fonte de redenção. O povo é desafiado a olhar além das alianças políticas e falsas confianças (Ezequiel 29:6-7, 16).

Voltando a Ezequiel 29, no verso 3 lemos: “O rio é meu, e eu o fiz para mim mesmo”. Não só por meio de documentos e mitos do Egito antigo, mas também através deste texto notamos como o faraó via a si mesmo. Como um criador. Curioso é que apesar desta tradução do versículo 3 já confirmar a idéia da presunção faraônica, é sugerida uma outra tradução para este trecho do versículo: “O rio é meu. Eu me fiz” (לִ֥י יְאֹרִ֖י וַאֲנִ֥י עֲשִׂיתִֽנִי [li ie’ori va’ani ‘ashitini]). Nesta outra tradução, o final da fala do faraó indica nitidamente uma ideia de auto-divinização ou até auto-criação.

Independentemente das possibilidades de tradução, para um faraó que se considerava uma espécie de deus, o ETERNO diz (Êxodo 7:1): “Então, disse o SENHOR a Moisés: Vê que te constituí como deus sobre Faraó, e Arão, teu irmão, será teu profeta”.

O ETERNO constitui a Moisés como deus sobre aquele que se considerava deus, para que através de seu representante, o faraó conhecesse o DEUS verdadeiro.