Alguns textos parecem tão simples e, muitas vezes, são tão simploriamente aplicados, que seu real sentido –aquilo que é importante de fato– passa desapercebido. Um destes textos é Mateus 7:15-27. Ali, no final de um grande sermão, Jesus passa a tratar de um tema que parece óbvio: falsos profetas.
O conselho é claro e plenamente compreensível: “pelos seus frutos os conhecereis” (Mt. 7:16). O argumento derivado do conselho também parece lógico: se um indivíduo é bom, seus frutos serão bons. Se um indivíduo é mau, seus frutos serão maus. Portanto, para saber se alguém é enviado de DEUS –um verdadeiro profeta– basta olhar seus frutos: “pelos seus frutos os conhecereis” (Mt. 7:20) repete o Mestre.
Ora, o raciocínio é muito básico. Muito simples. Entretanto, qualquer maniqueísta poderia ser responsável por uma frase ou idéia como esta. A relevância do texto é que ele não pára aí. Jesus, diferentemente de qualquer expositor simplório do texto, não se apega ao maniqueísmo barato que parece ter se construído. ELE continua com: “nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus. Muitos, naquele dia, hão de dizer-me: Senhor, Senhor! Porventura não temos nós profetizado em teu nome, e em teu nome não expelimos demônios, e em teu nome não fizemos muitos milagres? Então, lhes direi explicitamente: nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais a iniquidade.” (Mt. 7:21-23)
Aqui percebemos o quão profundo é o discurso do Mestre. Seria um bom fruto o dom de profecia? Claro! Seria um bom fruto o expelir demônios? Claro! Seria um bom fruto fazer milagres? Claro! São todos, inclusive, frutos que o próprio Messias, Jesus, apresenta eem Seu ministério (Mt. 24 e 25; Mt. 9:32-34; 8:28-34; 8:1-17; etc). Como, então, podem pessoas apresentar bons frutos e ainda assim serem rechaçadas por Cristo no juízo?
A resposta, como sempre, está no próprio texto: ”aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus” (Mt. 7:21). O segredo do bom fruto, portanto, não é o fruto em si. O segredo, segundo o Mestre, é o bom fruto produzido por fazer a vontade do Pai.
A continuação mostra a diferença entre dois homens que constroem casas. Um sobre a rocha e outro sobre a areia (Mt. 7:24-27). Ambos edificaram casas, o que na relação com os versos anteriores se aplica aos frutos. Mas um deles construiu sobre a rocha e outro sobre a areia. Um, o que construiu sobre a rocha, simboliza os que ouvem e praticam as palavras de Jesus. Outro, o que construiu sobre a areia, simboliza os que não ouvem e nem praticam as palavras de Jesus.
A lógica do Reino subverte a lógica do reino. Na realidade, o discurso dos frutos e a parábola dos construtores aponta um fenômeno: muitos apresentam frutos; bons frutos. Mas só na tempestade é que são separados os que fizeram a vontade de DEUS daqueles que fizeram a sua própria vontade.
Não se contente com a esfera das aparências. Não viva e busque uma religião de ações visíveis, de maniqueísmo barato. Fazer o bem e ser bom está além disso: está em fazer a vontade de DEUS. E nem se preocupe com o outro. Não se preocupe se ele faz o bem ou é bom. Isto a tempestade dirá…