Em Jeremias 27:2, próximo à invasão Babilônica de Jerusalém, DEUS faz um pedido ao profeta: “Faze correias e canzis e põe-nos ao pescoço.” Jeremias deveria fazer uma espécie de jugo de animal (motah – מוֹטָה) e usá-lo sobre seu próprio pescoço como uma ação simbólica.
Elucidando este pedido, nos versos 5-8, DEUS, reclamando autoridade por ser o CRIADOR e por ter livrado Israel do Egito com “braço estendido” (expressão ligada ao êxodo, encontrada, por exemplo, em Deuteronômio 4:34), afirma que o povo deveria se subjugar à Babilônia.
A realidade de aceitação do jugo babilônico não aparece somente aqui no capítulo 27. Em Jeremias 29, por exemplo, nos versos 4-10 o profeta explicita até o que o povo deveria buscar na Babilônia no período de exílio: edificar casas, plantar pomares, tomar esposas e procurar paz. Esta sequência aparece somente em um outro lugar na Bíblia Hebraica, a dizer: Deuteronômio 20:5-10. Os três primeiros elementos aparecem em Deuteronômio ligados àqueles que não deveriam se juntar ao exército com intenção de ir à guerra, e o último relacionado à atitude ao se aproximarem de alguma cidade para guerrear. Assim, ao utilizar estes elementos no contexto da aceitação do jugo babilônico, o profeta Jeremias indica que não deveria existir revolta contra a Babilônia. Afinal, Nabucodonosor é chamado por DEUS em Jeremias 27:6 de “meu servo”.
Apesar de em Jeremias 27:9-11 o profeta alertar o povo de que não deveriam dar ouvidos aos profetas que diziam que a nação não serviria à Babilônia, no capítulo 28 Hananias não se agrada com a mensagem de Jeremias. Segundo Hananias, DEUS quebraria o jugo Babilônico dentro de dois anos. Não sabendo discernir entre suas próprias palavras e as palavras de DEUS, Hananias quebra o jugo de madeira que Jeremias carregava numa intenção de realizar uma ação simbólica semelhante à ação que o próprio Jeremias realizava ao carregar o jugo (versos 10-11).
No entanto, logo em seguida, DEUS ordena a Jeremias: “Vai e fala a Hananias, dizendo: Assim diz o SENHOR: Canzis de madeira quebraste. Mas, em vez deles, fareis canzis de ferro” (Jeremias 28:13). Curioso é que em Deuteronômio 28:48, dentro do contexto das maldições da aliança, o que se diz a respeito do inimigo que o SENHOR enviaria contra Israel, é: “[…] sobre o teu pescoço porá um jugo de ferro, até que te haja destruído.”
Para Hananias, quebrar o jugo de madeira era uma atitude zelosa e simbólica do cumprimento da palavra de DEUS de que o povo não serviria à Babilônia. No entanto, possivelmente sem lembrar das palavras de Deuteronômio, sua ação simbólica apenas confirma o que Jeremias já havia dito.
No livro de Jeremias, DEUS quebra o jugo de Israel (2:20) e lhes propõe outro jugo. O DELE. Um jugo que implica em “saber o caminho do SENHOR” (5:5).
Esta noção de troca de jugos é a mesma que Jesus propõe em Matheus 11:28-30 dizendo: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e acharei descanso para a vossa alma. Porque meu jugo é suave, e o meu fardo é leve”.
Na Bíblia a questão não é de carregar ou não um jugo, mas do jugo de quem irei carregar.