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Que é o Homem?

O homem sempre olhou para a natureza buscando respostas a respeito de si mesmo. Em muitas mitologias o homem personificava os fenômenos da natureza nas figuras dos deuses e a relação do homem com os deuses representava, na verdade, sua relação com a natureza. O ser humano era criado pelos deuses e estava submetido a eles. Mesmo na sociedade moderna ainda há essa percepção de insignificância do ser humano diante da majestade do universo. Dias atrás, a sonda New Horizons completou sua viagem de nove anos e chegou até Plutão. Foram divulgadas imagens e dados sobre as distâncias inimagináveis que existem aqui no nosso sistema solar. A reação mais comum era a percepção de que o ser humano não é nada comparado a um universo tão magnífico e grandioso. Quando o referencial é o ser humano, o universo parece ainda mais majestoso, e o homem, mais insignificante.

A Bíblia também descreve esta reação à sua própria maneira: “Quando contemplo os teus céus, obra dos teus dedos, a lua e as estrelas que ali firmaste, pergunto: Que é o homem, para que com ele te importes? E o filho do homem, para que com ele te preocupes?” (Salmos 8:3-4)

Mas ao ver a grandiosidade da natureza, o autor do salmo adiciona ainda um outro referencial: o Criador. Há um sujeito nos versos supra-citados que está além do homem e da natureza. O primeiro verso do salmo declara: “Senhor, Senhor nosso, como é majestoso o teu nome em toda a terra! Tu, cuja glória é cantada nos céus”. Se diante dos astros o homem já é mínimo, como compará-lo com Aquele cujo nome é majestoso na terra e cuja glória é cantada nos céus? Como comparar com Aquele que é maior que o universo? Com aquele que é mais antigo do que o tempo?

Que é o homem?

Há uma estrutura que se repete no salmo. Ele começa falando da majestade do nome de DEUS (v. 1) e em seguida de como esse DEUS é exaltado na boca de frágeis crianças pequenas (v. 2). Fala sobre o esplendor dos céus, lua e estrelas (v. 3) e da pequeneza do homem diante disso (v. 4). O texto vai intercalando a ideia de grandeza e minudência. Mas o verso 5 inverte a dimensão do homem e da natureza citados anteriormente.

“Tu o fizeste um pouco menor do que os seres celestiais e o coroaste de glória e de honra. Tu o fizeste dominar sobre as obras das tuas mãos; sob os seus pés tudo puseste: Todos os rebanhos e manadas, e até os animais selvagens, as aves do céu, os peixes do mar e tudo o que percorre as veredas dos mares.” Salmos 8:5-8

O homem agora é descrito como algo extraordinário. No livro de Gênesis (1:26) o domínio sobre a natureza é o que torna o homem à imagem e semelhança de DEUS. O homem não é apenas um produto dos fenômenos da natureza, e portanto submisso a ela. Ele é obra do Criador da natureza. O homem é identificado com DEUS, tendo o domínio da natureza – DEUS e o homem estão lado a lado, em oposição à natureza.

Não é apenas a nossa pequenez como humanos que se tornou evidente quando aquela sonda chegou até Plutão. Aplicar conhecimento sobre os fenômenos naturais e dominar com precisão o manejo de materiais ao ponto de enviar uma máquina a lugares mais distantes do que a compreensão é um feito que demonstra como o homem é um ser extraordinário – como nenhuma outra criatura jamais observada pode ser sequer comparada. Quando nos admiramos com a grandiosidade da natureza, também é igualmente fascinante a nossa própria capacidade de perceber, entender, ponderar e apreciar.

Entretanto a posição de insignificância do homem descrita no verso 5 não deve ser descartada, mas permanece, em tensão, ao lado desta outra perspectiva. A comentarista bíblica Nehama Leibovitz diz “O salmista no Salmo 8, enquanto observa o céu e suas hostes, sente ao mesmo tempo e de uma só vez sua insignificância frente a todo o universo e sua posição de honra como dominador na terra”. [New Studies in Bereshit]

O salmo encerra com a mesma declaração que começa. Independentemente da exaltação e submissão do homem e da natureza, há algo que transcende toda a existência, que é a origem e o destino de todo ser, que está além do homem e além da natureza: “Senhor, Senhor nosso, como é majestoso o teu nome em toda a terra!”

Rolnei Tavares