“Disse Moisés a DEUS: Eis que quando eu vier aos filhos de Israel e lhes disser: O DEUS de vossos pais me enviou a vós outros; e eles me perguntarem: Qual é o seu nome? Que lhes direi? Disse DEUS a Moisés: EU SOU O QUE SOU. Disse mais: Assim dirás aos filhos de Israel: EU SOU me enviou a vós outros”. Êxodo 3:13-14
A religião bíblica é um convite à experiência.
Um dos aspectos dessa experiência está ligado com o, como diz A. J. Heschel, “senso do INEFÁVEL”. O que nos distingue dos animais não é nosso poder de expressão ou de comunicação. Exemplos como os das abelhas, baleias, pássaros, etc., mostram que os animais também são capazes de se comunicar. Uma das coisas que caracteriza o homem não é apenas sua habilidade de desenvolver palavras e símbolos, mas também a sua capacidade de distinguir o dizível do indizível. A capacidade de ficar impressionado com o que não pode ser colocado em palavras. O senso do sublime, do transcendente é a raiz da criatividade humana. Músicas, quadros, esculturas, muitas vezes tem o poder de suscitar em nós algo que está além do que podemos expressar. A tentativa de transmitir o que se vê e não se pode dizer é o eterno tema do poema inacabado da humanidade.
De acordo com Ferreira Gullar, o crítico pode abordar a arte de diversas maneiras: como um fato sociológico, como um fato histórico, como a expressão de tendências artísticas, etc. No entanto, para ele, a obra propriamente dita é algo, antes de tudo, perceptiva: uma experiência do fenômeno. No primeiro contato com uma pintura, notamos que a percepção não está ligada só à materialidade, mas também à tessitura de significados nas cores, linhas, formas e transparências. Esses elementos constituem uma totalidade cujo significado é intraduzível em qualquer outra linguagem. Assim, o poeta afirma que toda arte nos atinge como uma fulguração, um relâmpago.
Da mesma forma que a arte nos atinge, antes de tudo, de maneira perceptiva, antes de conhecermos a DEUS, somos confrontados pela sua presença. Nunca saberemos algo de quem é DEUS sem antes experimentarmos que ELE é. Assim, a religião bíblica nasce de um espanto. Me espanto diante de um DEUS tão próximo que me ouve, mas ao mesmo tempo tão distante e inefável que não posso conter.
Outro aspecto da experiência bíblica está relacionado com o fato de que, antes de compreender o que ELE pede, devo viver o que ELE pede. Essa é a lógica de Êxodo 24:7, quando, em resposta às estipulações da aliança, o povo de Israel responde: “Tudo o que falou o SENHOR faremos e obedeceremos”. Biblicamente, é fazendo/vivendo que compreendo.
Ainda, no hebraico, o verbo ידע (yada – conhecer) complementa esta ideia. Conhecer biblicamente significa mais do que adquirir conceitos abstratos e efêmeros sobre determinado assunto. O verbo conota relacionamento íntimo, inclusive, muitas vezes, é utilizado referindo-se à união sexual. Exemplo disto é Gênesis 4:1 “Conheceu Adão a Eva, sua mulher. Esta concebeu e deu à luz a Caim; então, disse: adquiri um varão com o auxílio do SENHOR”. ידע (yada – conhecer) está ligado primariamente com uma experiência, uma apropriação, um sentimento altamente pessoal. Conhecer a DEUS implica em viver com ELE, viver o que ELE pede, viver o que ELE é.
Antes de conceituar ou teorizar, sou confrontado por ALGUÉM que transcende o dizível, e assim, sou chamado a viver a VERDADE, o relâmpago em PALAVRA.