“Toma um rolo, um livro, e escreve nele todas as palavras que te falei contra Israel, contra Judá e contra todas as nações, desde o dia em que te falei, desde os dias de Josias até hoje.”
Jeremias 36:2
Talvez Josias seja um dos reis de Judá mais conhecidos de toda a Bíblia Hebraica. Além do fato de ter começado a reinar aos oito anos de idade, Josias é lembrado por ter sido o rei que efetuou uma reforma espiritual no reino, renovando a aliança com o SENHOR. Sobre o início desta reforma, em 2 Reis 22 é dito que Josias enviou o escrivão Safã à Casa do Senhor, para pedir a Hilquias, o sumo sacerdote, que contasse o dinheiro a ser entregue aos responsáveis pela obra de reparação do Templo. No entanto ao chegar a Hilquias, Safã é surpreendido por uma notícia do sumo sacerdote. Hilquias o avisa que o Livro da Lei (Deuteronômio) havia sido encontrado no Templo. Imediatamente Hilquias entrega o livro a Safã, e ele o leva diante do rei Josias e o lê. Como consequência, Josias faz uma reforma espiritual em todo o reino.
O tempo passou e Josias foi sucedido por seu filho Jeoacaz cujo reinado, no entanto, durou apenas três meses, porque o Egito o depôs e constituiu a Eliaquim (que teve seu nome posteriormente mudado para Jeoaquim [2 Crônicas 36:1-4]), seu irmão, rei sobre Judá. Entre as duas principais potências da época (Egito e Babilônia), o povo de Judá, sob a liderança de Jeoaquim, filho de Josias, estava atemorizado com os últimas ameaças políticas que vinham sofrendo.
De acordo com o livro de 2 Reis, Josias fez o que era reto perante o SENHOR, e não se desviou nem para a direita nem para a esquerda (2 Reis 22:2). Já Jeoaquim, diferentemente de seu pai, foi um rei que fez o que era mau perante o SENHOR (2 Crônicas 36:5). Tudo que seu pai havia lutado para reformar em seu reinado, agora, foi abandonado e/ou desfeito.
Neste momento de tensão, DEUS pede a Jeremias que escreva uma mensagem especifica num rolo. A mensagem do rolo dizia que o rei da Babilônia tomaria toda aquela terra (Jeremias 36:29), ao mesmo tempo em que falava da oportunidade de arrependimento (Jeremias 36:3). Com o auxílio de Baruque, as palavras são escritas no rolo e em seguida levadas a todo o povo para que pudessem ser ouvidas. Jeremias 36:10 diz: “Leu, pois Baruque na Casa do Senhor, na câmara de Gemarias, filho de Safã, o escriba, no átrio superior, à entrada da Porta Nova da Casa do Senhor, diante de todo o povo.” Micaías, filho de Gemarias, ouviu todas aquelas palavras e correu para repassar o conteúdo a todos os príncipes na câmara do escrivão (vv.12-13). Os príncipes, surpresos com o conteúdo, mandam chamar Baruque, que lê todo o rolo, agora, diante deles. A reação foi: “Tendo eles ouvido todas aquelas palavras, entreolharam-se atemorizados e disseram a Baruque: Sem dúvida nenhuma, anunciaremos ao rei todas estas palavras” (Jeremias 36:16).
O rei estava em sua casa de inverno, e diante dele estava um braseiro aceso. Depois de terem lido três ou quatro folhas do livro, com um canivete de escrivão, o rei rasgou o rolo, e o lançou no fogo que havia no braseiro.
Aqui, as duas histórias, tanto de Josias como de Jeoaquim, fortalecem seus paralelos. Em 2 Reis 22, Hilquias encontra o livro e Safã o leva para ser lido ao rei Josias. Na história de Jeremias 36, Jeremias escreve as palavras do SENHOR em um rolo e Micaías e Gemarias fazem com que o rolo fosse lido ao rei Jeoaquim. Interessante é que nas duas histórias, praticamente as mesmas ações são realizadas pelas mesmas famílias: Hilquias, o sumo sacerdote, era pai de Jeremias. E Safã, o escrivão, pai de Gemarias, e avô de Micaías.
O que distingue os dois episódios é que, segundo Jeremias 36, ao Jeoaquim ouvir as palavras do rolo, sua ação foi rasgar. Exatamente a mesma ação de Josias no livro de 2 Reis. No entanto, Josias não rasga o livro encontrado. O texto diz: “Tendo o rei ouvido as palavras do Livro da Lei, rasgou as suas vestes” (2 Reis 22:11).
Antes de, erroneamente, forçar a Bíblia a responder todos os nossos caprichos como uma espécie de amuleto, que permitamos que o texto nos indague; que o texto levante as questões. Muitas vezes a ausência de respostas nos aproximará DAQUELE que É a PALAVRA. Assim, envergonhados em nossa finitude, nos rasgaremos na PALAVRA.