#2

“A Bíblia é uma sublime resposta, mas não sabemos mais que pergunta ela responde.” Heschel

O fato da ausência de Jesus, o primeiro tijolo retirado da nossa estrutura teológica cotidiana no post anterior, cria a necessidade da remoção de um segundo tijolo.

O Espírito Santo, assim como Jesus, é objeto de pouca ou nenhuma reflexão válida. É também comum ouvir/falar a respeito do Espírito. O Espírito está aqui. O Espírito está lá. O Espírito está em mim. E nestas afirmações nos tornamos meteorólogos espirituais. Imperceptivelmente manipulamos as ações de um Espírito que é comparado ao vento, sopra onde quer (João 3:8). Embutida em nossas afirmações está a irônica crença que temos controle sobre o que é [sobre]naturalmente incontrolável.

A ausência de Jesus trouxe a presença do Espírito, que, por sua vez, está além do nosso controle. Somente quando nos deparamos com a limitação de nossas afirmações nos encontramos na postura ideal para nos aproximar da realidade proposta nas Escrituras.

A presença direta de Jesus, junto com seu ministério de ensino, foram interrompidos por sua morte. Uma das últimas coisas que Jesus disse a seus discípulos foi: “ainda tenho muito que vos dizer, mas vós não o podeis suportar agora… mas, quando vier aquele Espírito de verdade, Ele vos guiará em toda a verdade” (João 16:12-13). O Espírito aparece para preencher o vazio deixado pela ausência de Jesus. Ao contrário de nossas expectativas ou crenças pouco articuladas Ele não veio para criar uma nova religião mas para ser um ensinador da verdade! Anti-climático para alguns.

O Espírito, como Cristo, veio para expandir nossa compreensão da revelação que começou logo após a saída do Éden. Como Cristo, Ele veio para nos ajudar a entender “começando por Moisés, e por todos os profetas” o que de Cristo se achava nas Escrituras (Lucas 24:27). Consequentemente, o Espírito também veio para nos fazer lembrar das palavras do próprio Cristo (João 14:26).

Mas hoje é muito mais fácil dizer que o Espírito está aqui, lá, em mim, do que enfrentá-lO como ensinador da verdade na revelação da Palavra. As palavras de Buber ajudam neste contexto:

Pessoas hoje resistem às Escrituras, porque elas não conseguem suportar revelação. Suportar revelação significa suster a completa crucialidade do momento, responder ao momento, ser responsável por ele. Pessoas hoje resistem às Escrituras, porque elas não são mais responsivas nem responsáveis. Elas alegam fazer muito; mas o único empreendimento verdadeiro, o empreendimento da responsabilidade, elas industrialmente evitam. (Buber, Rosenzweig – Scripture and Translation)

Na ausência de Jesus o que nos resta são o vazio que Ele deixou e um anseio por Revelação! Na esperança que o vento do Espírito sopre próximo de nós. Para que, ao abrirmos a Palavra –em solitude como em comunidade– a experiência seja mais do que meramente rotineira, mas o início de uma transformação. Não podemos mais industrialmente evitar aquilo que essencialmente mais precisamos: Revelação.