A palavra Bíblia significa, literalmente, livros. Um aspecto curioso é que esse conjunto de livros chamado “Livros” também está cheio de referências a livros. Em Deuteronômio lemos que Moisés escreveu um cântico e o livro da lei (ver os textos 130 e 131); em Jeremias há o livro (rolo), contendo palavras de Jeremias que é destruído pelo rei de Judá (ver os textos 25 e 115); há o livro que Ezequiel deve comer; os livros abertos diante do trono do Ancião de dias em Daniel; o livro que é doce e amargo em Apocalipse; o livro das bênçãos e maldições citado também por Daniel em sua oração; etc.
Há também uma série de ordens para que coisas sejam escritas e mesmo menções de algo ser escrito: é dito que Moisés escreveu os mandamentos (na segunda vez); que Baruque escrevia o que Jeremias ditava; o rei Davi escreve uma carta que acaba por levar Urias à morte; há uma mão misteriosa escrevendo em uma parede no livro de Daniel; o profeta Daniel diz ter escrito exatamente o que viu em visão; Jesus escreve no chão ao ser testado no episódio da mulher adúltera; o próprio DEUS aparece escrevendo em pedra em Êxodo.
Fora isso, há os diversos textos em que livros são lidos diante do povo, que os escuta, como em Êxodo, Josué, Reis, etc. Claramente a ideia da palavra escrita é importante na Bíblia. Deuteronômio 28:58-59 alerta que a leitura do livro é o que os manteria longe da apostasia e manteria a aliança. Obviamente não só a leitura, mas a ação decorrente dessa leitura. O livro é o que manteria Israel a salvo. Lê-lo e praticar o que está escrito seria a segurança do povo de DEUS.
Após a apostasia anunciada por Moisés se cumprir séculos depois, o povo sofreu no cativeiro por 70 anos. Algum tempo depois de retornar e se reestabelecer na terra, o povo se reuniu e pediu que Esdras trouxesse o “Livro da Lei de Moisés” e o lesse para eles. A leitura começou cedo pela manhã e foi até o meio-dia e diz o texto: “E os ouvidos de todas as pessoas estavam atentos ao Livro da Lei” (Neemias 8:3). O contexto todo é impressionante: Esdras apresenta o Livro às pessoas, estando ele em uma plataforma de madeira. Ao abrir o Livro as pessoas se levantam. Esdras louva o nome de DEUS, o povo levanta suas mãos aos céus dizendo “amen, amen” e então todos eles se curvam com rosto em terra bendizendo o nome de DEUS (Neemias 8:4-6). Obviamente eles não adoravam o Livro, mas o DEUS revelado no livro e Suas palavras escritas, não só para que o povo obedecesse, mas para que o povo lembrasse de todos os Seus feitos!
Esdras lia o livro e ele e os levitas ajudavam o povo a entender o que estava escrito. Um sermão simples – leitura do Livro e explicação do livro. O que impacta nessa situação específica é o valor dado ao Livro. Sua leitura em público, as explicações, a ação resultante.
A Bíblia, Livro de livros, Livro dos livros, é a maneira pela qual DEUS escolheu se revelar ao Seu povo ao longo dos tempos. A centralidade do Livro na existência do povo é ratificada nesse episódio com Esdras, mas está presente ao longo de toda a Bíblia, não só no chamado Antigo Testamento, mas no Novo também.
Que o Livro seja a centralidade da nossa experiência espiritual e do nosso relacionamento com DEUS. Que a leitura e a explicação do Livro, nos leve a uma vida em acordo com Suas palavras.