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No texto anterior foi feito um breve retrospecto dos encontros entre DEUS e Abrão, da evolução da promessa contida naquela aliança e das implicações da decisão de Sarai e Abrão de envolverem Agar neste contexto. Além disso, pincelou rapidamente a providência de DEUS na vida da escrava egípcia que, naquele momento, estava vulnerável dentro de uma relação de dominação.

 

Após a promessa feita para Agar (Gênesis 16:10-12), a narrativa segue com um novo encontro entre DEUS e Abrão. O capítulo 17 do livro de Gênesis revela uma série de nuances que mereceriam uma abordagem mais ampla, portanto, longe da pretensão de dar conta desta complexidade, gostaria de propor uma observação sobre alguns aspectos do referido capítulo. 

 

Primeiramente DEUS novamente repete a promessa, afirmando que Abrão seria pai de muitas nações (versos 2-4) e muda seu nome para Abraão. O mesmo acontece com Sarai, que passa a ser chamada Sara. Na Bíblia, a mudança do nome possui várias implicações. Em muitas situações, por exemplo, o nome aponta para um fato na história do personagem, evidenciando que a partir daquele acontecimento o indivíduo experimentaria um outro sentido de vida. Este aspecto fica claro na narrativa quando DEUS dá o nome Isaque (aquele que ri) num contexto em que Abraão cai sobre seu rosto e ri (verso 17). Por motivos óbvios, é no mínimo engraçado imaginar que um homem de cem anos e uma mulher de 90 anos teriam condições de gerar um filho, principalmente levando em consideração o agravante de que Sara era estéril. Ou seja, aqui o nome do filho conta um fato marcante na trajetória dos pais e a maneira como DEUS agiu, mudando o curso de sua história.

 

Todavia há ainda um outro aspecto na atribuição do nome, ou na sua mudança. Em linhas gerais nota-se uma relação íntima com senso de pertencimento, afinal de contas são os pais que usualmente escolhem o nome de seus filhos. Ismael, Abraão, Sara e Isaque são nomes dados por DEUS, evidenciando que todos pertencem a Ele e estão sob Seus auspícios. Cada um desses nomes possui significado personalíssimo, como Sarai (minha princesa) que passa a ser chamada somente de Sara (princesa), indicando que ela não mais seria exclusividade de Abraão. A partir do momento em que DEUS inclui Sara na aliança, deixa claro que ela seria “mãe de nações” (verso 16), denotando a convergência da chegada da bênção com a quebra do monopólio de Abraão sobre sua esposa. A partir disto, do ventre daquela que antes não era lembrada, sairiam “reis de povos”.

 

Mesmo que DEUS tenha aparecido diversas vezes a Abraão e reiterado uma aliança na qual sua mulher não havia sido incluída, desta vez, ao tratar da aliança com Abraão, Sara ganha proeminência, chegando ao ponto da narrativa pesar toda a ênfase sobre o nome de Sara e Isaque, e praticamente suprimir o nome do patriarca (versos 19 e 21).