#190

1 Reis 18:1, capítulo que dá sequência ao texto da semana passada, diz: “Muito tempo depois, veio a palavra do SENHOR a Elias, no terceiro ano, dizendo: Vai, apresenta-te a Acabe, porque darei chuva sobre a terra”. A seca era intensa. Havia passado muito tempo desde que Elias aparecera diante do rei anunciando a seca e, em seguida,  ter desaparecido. Como conseqüência da seca, a fome também era intensa. 

 

De acordo com a narrativa, Elias partiu para se apresentar ao rei. Nesse momento, o episódio de Elias é interrompido. Elias está a caminho.

 

Enquanto isso, em Samaria, o rei Acabe chamou seu chefe da casa real, Obadias, para uma conversa. Ao mencionar pela primeira vez o nome de Obadias, o narrador faz um parêntesis para identificar quem era esse chefe da casa real; os vrsos.3-4 dizem: “Obadias temia muito ao SENHOR, porque quando Jezabel exterminava os profetas do SENHOR, Obadias tomou cem profetas, e de cinquenta em cinquenta os escondeu numa cova, e os sustentou com pão e água”.

 

Obadias, aquele que servia ao rei Acabe no palácio real, é o mesmo cujo nome significa “servo do SENHOR”. Mesmo em um contexto de completa idolatria e depravação, Obadias permaneceu fiel. Até então, não há indícios de que Obadias deveria se colocar diante do rei proferindo mensagens contra a postura do mesmo. Obadias era fiel em silêncio. Obadias servia a DEUS, mas em silêncio. Sem alarde. Não somente isso, Obadias clandestinamente salva da morte cem profetas do DEUS de Israel e os alimenta com pão e água. Tal ocorrido adquire contornos irônicos quando lemos o motivo do rei o ter chamado para uma conversa. O verso 5 diz que o rei o convoca a procurar por água por todas as terras e vales para que possam salvar a vida dos cavalos e mulas reais. 

 

O rei está preocupado com seus animais, mas não com os cidadãos do seu reino que passam fome. E nem para os seus animais há comida e água. DEUS proporciona alimento e água para que Obadias sustente os cem profetas escondidos. Mais uma vez, como no episódio do capítulo anterior, DEUS está no controle e alimenta os Seus.

 

Na sequência (verso 7), o primeiro episódio (o comissionamento de Elias) e o segundo (o diálogo entre o rei e Obadias) se cruzam. De acordo com os versos 7-8: “Estando Obadias já de caminho, eis que Elias se encontrou com ele. Obadias reconhecendo-o, prostrou-se com rosto em terra e disse: És tu meu senhor Elias? Respondeu-lhe ele: Sou eu; vai e dize ao teu senhor: Eis que aí está Elias.”

 

Esse diálogo carrega vários detalhes curiosos. Primeiramente, a pergunta de Obadias (“És tu meu senhor Elias?”) parece não estar relacionada à informação em si, mas sim à surpresa de encontrar alguém conhecido e sumido há tanto tempo. Obadias reconhece Elias logo que o vê. Contudo, a resposta de Elias parece um tanto seca, vindo de alguém conhecido que há muito tempo não se via. Talvez Obadias se interessasse em saber onde se escondeu por esse tempo, como sobreviveu, se ele sabia das intenções de Acabe e Jezabel quanto aos profetas do SENHOR. Mas não, a resposta é curta. Em hebraico, inclusive, o contraste é mais forte. Elias responde com uma única palavra אָנִי (ʾanī – “eu”), enquanto que ao proferir a ordem utiliza-se de cinco. 

 

Uma possível indicação da resposta de Elias está associada a como Elias se refere a Obadias no próprio verso 8, “vai e dize ao teu senhor”. Elias parece indicar aqui que chegou o momento em que Obadias precisa se decidir e se posicionar quanto à sua duplicidade no palácio. 

 

Curioso é o que Elias pede para que Obadias diga ao rei: הִנֵּה אֵלִיָּהוּ (hinneh ’elîahu). A mesma frase traduzida por “Eis que aí está Elias.”, levando em conta o significado do nome de Elias pode ser traduzida como: “Veja, ADONAI é o meu SENHOR!” Obadias deveria aparecer diante do rei adorador de Baal, e anunciar ao rei acerca do profeta. Contudo, no próprio anúncio, ambiguamente, Obadias estaria professando sua fé no DEUS de Israel.

 

Inicialmente, através de ideias confusas e vocabulário repetitivo, nos versos 12-14 Obadias transmite temor diante da tarefa. Obadias teme que Elias não saiba do que Jezabel tem feito aos profetas do Eterno. Ele informa a Elias que o rei atravessou o reino perguntando a seu respeito e fez todos os governantes jurarem pelo bem estar do povo que o profeta não estaria ali. Além disso, Obadias teme que ele anuncie Elias ao rei e, quando voltassem ao lugar indicado, DEUS o tivesse levado a outro lugar.

 

A resposta de Elias é clara: “Tão certo como vive o SENHOR dos Exércitos, perante cuja face estou, deveras, hoje, me apresentarei”. Em outras palavras, “eu te garanto que vou me apresentar, sobre o fato de te matarem ou não, não posso garantir nada…”

 

O verso 10 diz simplesmente que Obadias se encontrou com Acabe, lhe anunciou Elias, e Acabe foi ter com o profeta. Depois disso, o chefe da casa real, Obadias, não mais é mencionado. Não sabemos se morreu ou continuou vivo. Só sabemos que não mais se silenciou.

 

Inicialmente, Obadias é fiel em silêncio. O seu silêncio o possibilita a salvar cem profetas de Israel. Contudo, em certo momento, ele tem de se posicionar diante do rei. Talvez nem todos os fiéis silenciosos devam, em um momento específico, se posicionar claramente diante do rei. Talvez seu trabalho no silêncio seja mais valioso do que qualquer coisa claramente dita, e este ministério perdure por toda a vida. Contudo, o importante é estar preparado para, caso sejamos convocados a isto, falarmos sem ter medo da morte que qualquer rei possa impor.