#178

Há um trecho do evangelho de Lucas marcado pelos tons coloridos de festa e pelos sons vibrantes de júbilo e alegria. Trata-se de Lucas 14 e 15. Para ser mais específico, a seção intermediária de Lucas 14 (versos 7-24) e Lucas 15 praticamente inteiro.

 

Festa e comida são termos praticamente intercambiáveis em quase todas as culturas e não é diferente nesse espaço do Evangelho. A história do pastor, da mulher e do pai falam de perdas e achados. Em todas elas, a tônica semelhante é a derradeira alegria e o clima de festa. Mas há mais um elemento semelhante nessas histórias que o barulho da festa ou o calor do júbilo podem nos fazer esquecer. A ideia do sacrifício.

 

O pastor arrisca a vida e com a pesada ovelha sobre os ombros retorna ao aprisco. A mulher empreende uma grande limpeza e, exausta, encontra a moeda. O pai abre mão de tudo e se torna vulnerável esperando religiosamente à janela o retorno do filho pródigo. Antes da festa, um sacrifício. A festa é de graça para quem a recebe, mas alguém pagou um preço por ela. Essas histórias falam de uma graça incondicional garantida por um alto sacrifício.

 

Retrocedendo a Lucas 14:15, enxerga-se mais um quadro de festa. Um banquete sendo preparado e convites sendo distribuídos. Todos confirmam a presença no banquete. Mas no começo da comemoração, todos se escusam. A festa é um presente do anfitrião aos convidados, mas exige-se deles um preço para essa relação: a recusa de outros compromissos. Preço este que parecem não estar dispostos a pagar.

 

Se nos quadros de Lucas 15 o tema da graça incondicional e preciosa é a nota predominante, a história do banquete de Lucas 14 trata do discipulado radical do qual apenas o sacrifício completo pode ser a manifestação.

 

Aquele que oferece, o faz com sacrifício; e daquele que recebe se espera uma inteira e, na maioria das vezes, custosa resposta.

 

Interessante é perceber que no miolo dessas histórias, entre a festa do banquete e a alegria dos personagens que encontraram o que procuravam, há um chamado de Cristo.

 

“Qualquer um que não tomar a sua cruz e vier após mim não pode ser meu discípulo” (Lucas 14:27). É um chamado para morte, afinal a cruz era um instrumento com esta finalidade. E não ha critério menos exigente do discípulo do que “aborrecer a própria vida” (verso 26). Deixar o eu de lado para experimentar as palavras de Paulo “estou crucificado juntamente com Cristo e não mais eu vivo, mas Cristo vive em mim” (Gálatas 2:20).

 

A estrada do cristianismo começa com o Cristo crucificado para nos garantir a graça incondicional e termina com seus seguidores crucificados para manifestar ao mundo o discipulado total.

 

Não há atalhos.

 

 

Charlys Siqueira