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“…e olhando nós para ele, não havia boa aparência nele, para que o desejássemos…” Isaías 53:2

A Folha de São Paulo no começo de Agosto de 2014 publicou uma matéria interessante a respeito de uma polêmica que ocorreu na cidade de Farroupilha na serra Gaúcha. A cidade é conhecida por sua devoção à Nossa Senhora de Caravaggio. E de acordo com a matéria, os fiéis que normalmente visitam o santuário da cidade (o maior do país dedicado à santa) não conseguem mais ignorar o fato: “a imagem da padroeira que adorna a entrada do município é feia demais.” Uma revolta contra a feiura!

Alguns membros de minha família (que no passado abandonaram religião e religiosidade) sempre me fazem lembrar que, para eles, a religião ou espiritualidade promovida pelas vertentes cristãs não são atraentes. Estes, e talvez muitos outros, ao se aproximarem do “município do cristianismo” moderno são repelidos pela feiura da santa, da espiritualidade e religiosidade fria que foca mais no “fazer” do que no “ser”, mais na conduta ética do que na ética de conduta, que negligencia à vida agora pela vida no porvir.

Esta crítica é válida, pois a tentação recorrente entre os grupos mencionados acima, é a de diminuir a importância da beleza pela “relevância” da verdade. O problema porém, é que as próprias Escrituras vão contra esta dicotomia, pois a verdade nas Escrituras é apresentada através da beleza. A mistura entre verdade e beleza é tão profunda que não é possível discernir onde uma começa e a outra termina. Não é preciso citar um texto específico para justificar esta afirmação, pois uma análise superficial das Escrituras (sem falar da beleza da criação como um indicador da beleza do Criador) já atestaria para o fato de que o que se encontra na Palavra é poesia, narrativa, com estrutura, ritmo, verdade, beleza.

O paradoxo –o mistério que nos confronta através desta realidade– é: como é possível, uma verdade bela, revelada por um DEUS belo (Salmos 27:4; Isaías 33:17) gerar frutos aparentemente feios? Nossa tendência natural diante disto seria pensar no que fazer para que as pessoas possam ser “atraídas” pela beleza de nossos cultos, igrejas e vida. Palestras, PowerPoints, e inúmeros sermões seriam, então, encomendados para discutir e “resolver” o problema. Mas a tentativa modernista de “criar” uma beleza com o fim de “atrair pessoas” também perde de vista o simples principio explicitado aqui: a verdade é bela, e não precisa ser feita bela. Onde há verdade, há beleza. A beleza co-aparece com a verdade como o tempo co-aparece com a existência. E mais que isto: é a verdade no contexto do amor que nos embeleza. 

Hans Urs Van Balthasar tem razão: é o amor que nos embeleza. DEUS é amor, e, por isso, é belo. O que DEUS faz através de Cristo por amor ao mundo (Romanos 5:8) nos torna belos, pois nos tornamos como Ele, humanos, mas cheios de Seu amor (1 João 4:19).

Não é à toa que antes de partir Jesus disse aos discípulos que o mundo os reconheceria como seus seguidores pelo amor (João 13:35). Talvez seja tempo de uma revolta contra a feiura da santa de nossa religiosidade fria, construída por anos de tradição, e que se encontra na entrada de nosso município cristão.