#128

Ainda sobre a unção, vimos no último texto bíblico da semana passada (#127), 1 Reis 19:14-16, algo curioso: a unção de um rei estrangeiro, Hazael, da Síria.

Entendendo a unção relacionada à eleição divina, nada impede que vejamos estrangeiros sendo ungidos por profetas. Isaías 45:1 é um exemplo disso: “Assim diz o SENHOR ao seu ungido (לִמְשִׁיחוֹ֮ – limshiho), a Ciro […]”. O rei Ciro, rei estrangeiro, é chamado de ungido (מָשִׁיחַ –  mashiah).

Quanto aos reis de Israel, a unção aparece somente em casos quando há uma aparente sucessão real irregular, ou quando o rei é o primeiro de sua casa.

Por exemplo, em 1 Samuel 10:1, dentre outros fatores, por ser o primeiro rei, Saul é ungido. Em 1 Samuel 16:13 Davi é ungido enquanto Saul ainda está reinando. Em 1 Reis 1:39 vemos Salomão sendo ungido, porque que ele não era o sucessor legal direto ao trono. Em 2 Reis 11:12, Joás é ungido enquanto Atalia ainda está viva. E em 2 Reis 23:30, Joacaz é ungido, sendo que também não era o sucessor legal direto ao trono.

Não é em todos os casos que a unção realizada pelo profeta, sacerdote ou outro representante de DEUS possuía uma função legal intrínseca. Davi não teve o trono em suas mãos no dia seguinte da realização de sua unção pelo profeta Samuel. Assim, nota-se no texto bíblico, especificamente no caso de Davi, um caminho inverso da unção. Próximo a receber o trono, após a morte de Saul, Davi começa a ser reconhecido como o escolhido por DEUS para guiar Israel. Neste momento pode-se notar, em 2 Samuel 2:4 e 5:3, por exemplo, um fenômeno: O povo vem e unge Davi como uma forma de reconhecimento dessa escolha divina. 2 Samuel 2:4 diz: “Então, vieram os homens de Judá e ungiram ali Davi rei sobre a casa de Judá […]”. Em 2 Samuel 5:3 lemos: “Assim, todos os anciãos de Israel vieram ter com o rei, em Hebrom; e o rei Davi fez com eles aliança em Hebrom, perante o SENHOR. Ungiram Davi rei sobre Israel”.

Em Lucas 7:36-50, ao Jesus entrar na casa de Simão para comer, todos são surpreendidos por uma mulher identificada como pecadora que toma um vaso com bálsamo e derrama aos pés de Cristo. O texto diz que ao ver aquilo, Simão diz “se este fora profeta, bem saberia quem e qual é a mulher que lhe tocou, porque é pecadora” (verso 39).  Em seguida, após contar a história de dois devedores, Jesus vira-se para Simão e diz:  “[…] entrei na tua casa, e não me deste água para os pés; esta, porém, regou meus pés com lágrimas e os enxugou com os seus cabelos. Não me deste ósculo; ela entretanto, desde que entrei, não cessa de me beijar os pés. Não me ungiste a cabeça com óleo, mas esta, com bálsamo, ungiu meus pés”.

Enquanto as questões de Simão eram: “quem é este homem, que nem sequer reconhece esta pecadora?” e “quem é esta mulher para ungir os pés de Jesus?” a questão de Jesus parece ser: “Simão, quem é você para não me ungir os pés?”

O Ungido veio para servir. Em Marcos 10:45 lemos: “Porque o próprio Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate de muitos”. Reconhecer o Ungido como o que veio para servir, envolve serviço. E no serviço, não interessa quem é o outro.