Em Êxodo 7-11 encontramos as conhecidas “pragas do Egito”. A resposta de Faraó ao primeiro encontro com Moisés e Arão foi bem clara: “Naquele mesmo dia, pois, deu ordem Faraó aos superintendentes do povo e aos seus capatazes, dizendo: Daqui em diante não torneis a dar palha ao povo, para fazer tijolos, como antes; eles mesmos que vão e ajuntem para si a palha. E exigireis deles a mesma conta de tijolos que antes faziam; nada diminuireis dela; estão ociosos e, por isso, clamam: Vamos e sacrifiquemos ao nosso DEUS”.
DEUS fala mais uma vez com Moisés e Arão (Êxodo 6:28-7:6), mas, desta vez, elementos a mais fariam parte da tentativa de persuasão ao Faraó: sinais e maravilhas (אֹתוֹת e מוֹפְתִים). Curiosamente, com exceção de Êxodo 11:1 e 1 Samuel 4:8, todos os textos que se referem aos acontecimentos no Egito entre os capítulos 7 a 11¹ os denominam como sinais e maravilhas.² Isso, sem contar que no caso de 1 Samuel 4:8 a palavra “praga” (מַכָּה) ser proferida pela boca de filisteus.
Estas perspectivas diferentes quanto aos mesmos eventos trazem à tona uma questão: a quem, afinal, foram direcionadas as pragas?
Êxodo 7:3 diz que estes sinais e maravilhas tinham como alvo Faraó, contudo, ao mesmo tempo, as pragas foram direcionadas a todos os egípcios – “saberão os egípcios que eu sou o SENHOR, quando estender EU a mão sobre o Egito e tirar do meio deles os filhos de Israel” (verso 5). Somando-se ao Faraó o povo egípcio, talvez as pragas também tenham possuído a função de fortalecer a fé de Israel no DEUS de seus pais. Além de todos estes alvos possíveis –e infinitos outros que não temos conhecimento– o texto bíblico parece apontar para dois alvos específicos no relato das pragas.
Primeiro, os mágicos do Faraó. Desde Êxodo 7:11-12, quando Moisés e Arão fazem seus bordões se transformarem em serpentes, os mágicos egípcios possuem uma rápida reação aos sinais trazidos pelos enviados por DEUS. Eles fazem o mesmo (bordões em serpente; água em sangue; aparecimento de rãs) com suas “ciências ocultas” (7:11; 22; 8:7). Tal proeza dos mágicos chega a ser irônica no texto, afinal, de nada ajuda na solução do problema mais água se tornar sangue e mais rãs surgirem. Contudo, na praga dos piolhos, algo diferente acontece: os magos tentam fazer o mesmo, mas não conseguem (8:18). Assim, concluem: “Isto é dedo de DEUS” (8:19). Daí em diante, os magos desaparecem da narrativa, sendo mencionados apenas na praga das úlceras, quando também sofrem com todo o restante dos egípcios.
Em segundo lugar, Moisés. Desde o início, como é característico do chamado profético, Moisés se sente incapaz (Êxodo 4:13; 6:12, 30). Para auxiliá-lo nesta missão, DEUS envia junto dele Arão, seu irmão (Êxodo 4:14-17; 7:1). Além disso, parece que o texto demonstra um preparo especial de Moisés no decorrer das pragas. Nas três primeiras (sangue, rãs, piolhos), apesar de ser Moisés quem comunica a mensagem a Arão, Moisés vê Arão “agir” (Êxodo 7:19-20; 8:5,6; 16,17). É Arão quem estende a mão com o bordão sobre as águas do Nilo quando a água se torna sangue, quando surgem as rãs, e é ele que, com seu bordão, fere o pó da terra para que surjam os piolhos. Nas duas pragas seguintes (moscas e peste) não há nenhuma especificação de quem “age” como o instrumento divino. DEUS diz que Ele mesmo enviaria enxames de moscas, e estenderia a mão sobre o rebanho (8:21; 9:3). E finalmente, na praga das úlceras é Moisés quem “executa” o pedido divino atirando as cinzas de forno aos céus (9:10); daí em diante é só o profeta que “age” até a nona praga (9:23, chuva de pedras; 10:13, gafanhotos; 10:22, escuridão).
Perspectivas diferentes, propósitos diferentes, pessoas diferentes. O incomum, os mesmos eventos e o mesmo DEUS.
Praga? Sinal? Maravilha? Não importa. Ele é Soberano.
¹ Deuteronômio 6:22; 26:8; Jeremias 32:21; Salmos 78:43; 105:27; 135:9; Neemias 15:10.
² Talvez o início da explicação de aparecer em Êxodo 11 nasça da possível relação com Êxodo 4:22-23.