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“[…] não amemos de palavra, nem de língua, mas por obra e em verdade.” 1 João 3:18

Em textos anteriores já tentamos estabelecer o conceito do Cristianismo como sendo essencialmente de ações. Uma das maiores confusões no âmbito cristão, no entanto, está relacionado à concepção de ação. Ações são qualificadas como cristãs ou não cristãs –religiosas ou seculares– não pela ação em si mas por um conceito pré-determinado que avalia essas diferenciações.

Isto parece contrastar com a articulação de ações encontrados na Bíblia. A identidade cristã e/ou denominacional não está relacionada a uma interpretação ou a um conceito prévios, mas à própria ação em si.

Um exemplo (João 13:35): Jesus diz que pessoas reconheceriam seus discípulos se estes amassem uns aos outros. Não existe aqui uma definição de discipulado distinta do ato de amar. A ausência de tal distinção implica na fria realidade: se você não ama, logo não possui aquilo que o definiria como discípulo.

Tendo isto como base, posso seguir afirmando, por exemplo, que eu não acredito no amor. Não acredito no amor como um objeto, como algo que tenho e ofereço, como um conceito ou uma idéia abstrata; não acredito na existência deste tipo de amor. Este amor é uma fabricação. Pois uma vez que amor deixa de ser uma ação e passa a ser um objeto/conceito/idéia, este amor deixa de ser amor no sentido bíblico da palavra.

Amor, de fato, é um dos temas mais profundos e complexos da Bíblia. Parece ser o tema que menos entendemos em teoria e ao mesmo tempo o que mais negligenciamos na prática. A Bíblia contém inúmeros exemplos que nos ajudam a entender o que amor significa dentro de seu próprio escopo, justamente ao sempre relacionar esta palavra a alguma ação.

Amor na Bíblia –e não apenas amor, mas também sabedoria, justiça, temor, e tantos outros princípios– é ação. Não há conjecturas a respeito do conceito de amor, mas é a ação do amor que é sempre enfatizada. O texto famoso de João 3:16, texto que muitos sabemos de cor, diz: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu […]“ (negrito acrescentado). E ao descrever o amor de DEUS no contexto do sacrifício de Cristo, João escreve: “Vede quão grande amor nos tem concedido o Pai, que fôssemos CHAMADOS filhos de Deus […]“ (1 João 3:1). Amor não é uma idéia perfeita na mente do Pai, mas um ação indescritível de Pai, Filho e Espírito em nosso favor.

A dicotomização entre idéia e ação dentro do Cristianismo gera, além de divisões, uma falsa segurança. A segurança de que se eu crer, se eu entender, se eu defender os ideais “corretos” estarei bem. Pelo outro lado, a articulação de idéia como ação na Bíblia é extremamente importante no contexto atual pois hoje é bem possível ser cristão (batista, adventista, católico ou reformado) sem considerar as ações que qualificam esta identidade. Para muitos, hoje, parece que sua identidade religiosa deva ser real apenas no nível de idéias. Mas avaliando o conteúdo e contexto das Escrituras, por incrível que pareça, não há ações proselitistas; há apenas ações bíblicas. E se as idéias que criam as distinções denominacionais não estiverem atreladas a ações concretas numa forma de vida, para que servem?

E não seria por isto que o conselho de João soa tão apropriado? “Filhinhos, não amemos de palavra, nem língua… mas por obra e em verdade.” 1 João 3:18