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Ao lermos a respeito das três últimas pragas que caem sobre o Egito em Êxodo 10 e 11, alguns detalhes curiosos chamam à atenção.

Já em uma primeira leitura, nota-se que essas três pragas são diferentes tanto em relação a suas atividades como quanto à severidade dos acontecimentos. Na praga dos gafanhotos (8a praga), é dito que eles  “devoraram toda a erva da terra e todo o fruto das árvores que deixara a chuva de pedras; e não restou nada verde nas árvores, nem na erva do campo, em toda a terra do Egito”. Na 9a praga há uma escuridão que impossibilita aos egípcios enxergarem uns aos outros (verso 23) e na 10a, por fim, há a morte dos primogênitos.

Muito embora pareçam tão diferentes entre si, nas três últimas pragas há um elemento comum: a escuridão.

Na 9a praga a escuridão é auto evidente; a respeito da 8a praga é dito: “porque cobriram a superfície de toda a terra, de modo que a terra se escureceu” (verso15); e na 10a praga, tudo acontece à meia-noite. Êxodo 12:29 diz: “Aconteceu que, à meia-noite, feriu o SENHOR todos os primogênitos na terra do Egito, desde o primogênito de Faraó, que se assentava no seu trono, até ao primogênito do cativo que estava na enxovia, e todos os primogênitos dos animais”.

Desta maneira o próprio texto sugere perguntar: Porque há uma presença tão incisiva da escuridão nas últimas pragas que caem sobre o Egito?

Dentre alguns fatores, nota-se que a escuridão é sinônimo da própria condição de escravidão. Da mesma forma que os israelitas não podiam sair do Egito para adorar ao seu DEUS, na escuridão os egípcios “não viram uns aos outros, e ninguém se levantou do seu lugar por três dias […]”.

Em Lamentações 3:1-2 nós lemos: “Eu sou o homem que viu a aflição pela vara do furor de DEUS. Ele me levou e fez andar em trevas e não na luz”. Além do fato de עֳנִי (‘oni – “aflição”; “opressão”) ser a mesma palavra usada para a aflição de Israel no contexto de escravidão (Êxodo 3:7; 4:31), por meio do paralelo dos versículos de Lamentações, vemos que andar no escuro possui uma forte relação com a realidade de aflição/opressão.

Um paralelo semelhante pode ser encontrado em Isaías 9:1: “Mas para a terra que estava aflita não continuará na obscuridade. DEUS, nos primeiros tempos, tornou desprezível a terra de Zebulom e a terra de Naftali; mas, nos últimos, tornará glorioso o caminho do mar, além do Jordão […]”. A terra estava aflita e em obscuridade, mas há uma promessa de um caminho glorioso, e é essa glória que quebra o jugo opressor (verso 4).

Na escuridão não há vida, afinal só há existência se houver coexistência. Se não vejo o outro, para que viver?

Viver é enxergar o outro.