“não temas…” Matheus 1:20
Passaram-se as festas de final de ano e já nos encontramos naqueles dias sem muito significado ou sequer afazeres. Talvez ainda estejamos um pouco de ressaca (emocional) do desgaste particular da celebração de natal. Porque muito embora celebremos o nascimento de Jesus como se fosse algo próximo de nós e de nossa realidade, a verdade é q ele não está; seguramente está mais próximo da situação das mães e crianças em Aleppo!
Mas este não é um texto sobre a não-comemoração do Natal do dia 25 de dezembro. Este texto é uma tentativa de encontrar algo na narrativa do nascimento de Jesus que seja significativo para nós, especialmente nestes dias sem significado, nestes dias de início de ano. A busca é por algo que legitimamente seja compatível com nossa situação. Ou seja: este é um texto egoísta.
Matheus 1:18-20 diz: “Ora, o nascimento de Jesus Cristo foi assim: Estando Maria, sua mãe, desposada com José, antes de se ajuntarem, ela se achou ter concebido do Espírito Santo. E como José, seu esposo, era justo, e não a queria infamar, intentou deixá-la secretamente. E, projetando ele isso, eis que em sonho lhe apareceu um anjo do Senhor, dizendo: José, filho de Davi, não temas receber a Maria como tua esposa.”
O texto abre com “o nascimento foi assim”, mas ao invés de falar da jornada a Belém, da questão de não haver lugar para se hospedarem, do bebê na manjedoura com pastores e anjos cantando, o texto e a mensagem do anjo têm outra prioridade. Uma prioridade que nos encontra na nossa situação confortável do século XXI.
Do começo ao final da Bíblia, DEUS se interessa por seres humanos, por famílias. E se existe algo nesta história que é compatível com a nossa situação hoje é isto: nossas famílias também têm problemas, desafios e dilemas. Problemas que podem até parecer insignificantes quando comparados com guerras, doenças, mortes e Aleppo. Mas por mais insignificantes que possam parecer, os detalhes rotineiros e costumeiros do nosso dia a dia também são alvo do interesse divino.
Maria, noiva de José, aparece grávida. José, mesmo sendo um homem justo, não sabe bem o que fazer. O texto não menciona a visita do anjo a Maria. Isto talvez resolveria ou amenizaria o problema. José faz o melhor que pode, de acordo com seu julgamento, dentro de suas possibilidades. Como muitos de nós diante de nossos problemas: matrimoniais, de filhos que se foram, com pais ou irmãos emocionalmente distantes ou que não nos entendem, etc.
De noite um anjo aparece com uma revelação de DEUS. Esta revelação é crucial. Sem revelação a narrativa teria tomado uma direção completamente diferente. José teria deixado Maria. Jesus teria nascido em outras circunstâncias. Mas o sonho muda a dinâmica. A revelação muda a dinâmica. A revelação traz o inesperado e cria a possibilidade de mudança. Mudança esta às vezes é tão difícil de ocorrer na esfera familiar (em que freqüentemente nada jamais parece mudar).
Repare nas primeiras palavras do anjo: “José, não temas receber Maria como tua esposa.”
No meio das incertezas, no meio dos conflitos internos, no meio dos dilemas que como correnteza nos carregam para dentro de um ano incerto, DEUS é conosco da mesma forma que era com José. Jesus era Emanuel para o mundo, mas também para José e Maria no seu pequeno dilema familiar.
A narrativa do nascimento em Matheus é, em primeira mão, uma narrativa a respeito de um DEUS preocupado com nossos simples e aparentemente insignificantes conflitos e problemas individuais e familiares e somente depois a respeito da salvação para toda a humanidade. Inclusive, a obra divina de salvação não é realizada sem esta preocupação conosco.
Em meio aos nossos conflitos pessoais e familiares e diante de um ano novo, que possamos descansar neste único imperativo: “Não temas!”
Que possamos estar abertos e sensíveis à atuação de DEUS ao nosso redor. E mesmo que sejamos incapazes de desenvolver esta sensibilidade, que a Palavra, que a revelação de DEUS nas Escrituras possa criar este espaço para mudança, individual e familiar. Porque a história de Natal é a promessa para o ano novo: Deus conosco, preocupado com nossos dilemas, e disposto a nos levar para o próximo capítulo da história através da revelação.