#11

“O SENHOR, teu DEUS te levantará um profeta no meio de ti, de teus irmãos, como eu; a ele ouvireis.” Deutoronômio 18:15

“Ora, o nascimento de Jesus Cristo foi assim…” Mateus 1:18

Um dos segredos para uma leitura proveitosa de qualquer narrativa bíblica se encontra nos conceitos de “memória” e “antecipação”. “Memória” é a habilidade de lembrar daquilo que se passou antes da leitura chegar onde está (ecos, expressões, palavras-chave, etc). “Antecipação”, por sua vez, é a habilidade de conseguir antever ou vislumbrar o que está por vir através daquilo que já está ocorrendo.

A história do nascimento de Jesus é um exemplo perfeito disto.

A narrativa começa com José, pai de Jesus, tendo sonhos em relação ao futuro de sua nova família. Estes sonhos não apenas esclarecem o que irá acontecer, mas de fato o levam para uma terra estranha (Egito). O evangelho de Mateus como um todo começa como um novo Gênesis já que inicia com a genealogia de Jesus. Uma nova criação está prestes a tomar lugar e, tal qual a primeira criação, tudo é e será feito através de Cristo. Não é à toa que o que segue na narrativa são imagens relacionadas ao livro de gênesis, onde outro José também foi para uma terra estranha (Egito) depois de receber uma série de sonhos.

Uma das características mais belas das Escrituras como obra literária é esta: a história se repete.

A narrativa segue com um episódio curioso. O rei da judéia, Herodes, é visitado por homens do oriente que estão em  busca da criança… como o faraó do Egito no passado, o rei de Jerusalém (cidade que neste ponto da narrativa começa a se assemelhar mais ao Egito do antigo testamento do que ao Egito pacífico do novo testamento) se perturba com a notícia do possível nascimento de um libertador ao ponto de mandar exterminar todos os bebês homens da sua região. Os magos desobedecem o pedido do rei, possibilitando a sobrevivência do pequeno Jesus como as parteiras no passado, que também possibilitaram a sobrevivência das crianças no livro de Êxodo.

Como se já não bastassem estas semelhanças curiosas com o primeiro capítulo do livro de Êxodo, a história do nascimento de Jesus repete ainda mais! José e sua família, agora em exílio no Egito, são advertidos a retornar a Jerusalém da seguinte forma: “Levanta-te, e toma o menino e sua mãe, e vai para a terra de Israel; porque já estão mortos os que procuravam a morte do menino.” (Mateus 2:20) Como não notar a semelhança com a convocação do retorno de moisés para o egito em Êxodo 4:19: “Vai, volta para o Egito; porque todos os que buscavam a tua alma morreram.”

No meio da repetição de todas estas imagens fascinantes há significado. A repetição de episódios do passado na história do nascimento de Jesus não é apenas um exercício intelectual ou literário, mas é a porta para o leitor compreender o que de fato está ocorrendo na história do nascimento de Jesus: a nova criação que está prestes a acontecer em Cristo não ocorre em tempos de tranquilidade e paz, mas nos moldes do Êxodo! Da opressão causada pelos poderes da Judéia (que se assemelha ao Egito) um novo libertador nasce, é exilado, e retorna para salvar o povo não apenas da opressão física, mas da opressão espiritual. Jesus nasce como um novo Moisés!

Ao celebrarmos esta data do nascimento de Jesus não podemos deixar de lado esta poderosa lição: escondida na criança reside a esperança dos séculos! Na manjedoura nasce o filho de DEUS, sim, um novo Moisés prestes a libertar o seu povo da opressão de poderes visíveis e invisíveis. Natal é a celebração deste nascimento, e mais que isto, é um lembrete e um anúncio, de que um novo êxodo está às portas.