Em Zacarias 3:5-6 nós lemos: “E disse eu: ponham-lhe um turbante limpo sobre a cabeça. Puseram-lhe, pois, sobre a cabeça um turbante limpo e o vestiram com trajes próprios; e o Anjo do Senhor estava ali, protestou a Josué e disse: […]”. A palavra hebraica que é utilizada para turbante é tsaniph (צניף). Apesar desta palavra ocorrer poucas vezes e em um contexto de festa, outro substantivo derivado da mesma raiz, mitsnefet (מצנפת) é um termo técnico para designar especificamente a mitra sacerdotal (que aparece cerca de 12 vezes no Antigo Testamento) em textos como Êxodo 28:37 (aqui referindo-se ao diadema que ficaria enrolado no turbante), além de outras 10 vezes em Êxodo e Levítico, e uma vez em Ezequiel 21:26, onde também há uma referência ao diadema. Ou seja: as referências de Zacarias 3 ao santuário continuam de maneira evidente.
O sétimo verso é uma confirmação da aliança com vocábulos semelhantes aos de Levítico 26 e Deuteronômio 28-30 e uma promessa de que o purificado e justificado por DEUS poderia julgar nos átrios celestiais: “Assim diz o Senhor dos Exércitos: Se andares nos meus caminhos e observares os meus preceitos, também tu julgarás a minha casa e guardarás os meus átrios, e te darei livre acesso entre estes que aqui se encontram.” Neste texto outros indícios do sacerdócio e do Dia da Expiação são evocados: intercessão e juízo. Isto porque, ao entrar no santuário no Dia da Expiação e dirigir o serviço litúrgico, o sumo-sacerdote representava todo Israel e, portanto, intercedia por ele (Levítico 16:11, 16 + 19), mas também, por se tratar de um dia de purificação e expiação, o sumo sacerdote representava o próprio DEUS ao purificar o povo, trazer-lhe juízo/perdão e confessar os pecados sobre o bode para Azazel (Levítico 16:20-22).
Em suma: nos sete primeiros versos de Zacarias 3 algumas importantes ligações e referências são feitas, entre elas: a visão narra uma cena de juízo onde estão presentes DEUS e Satanás (verso 1); a expressão “tição tirado do fogo” relacionada com as brasas do altar no Yom Kippur (verso 2); a troca de roupas de Josué, também relacionada com o Yom Kippur (versos 3 e 4); a expressão “passe… iniqüidade” que aparece fortemente no ritual do Yom Kippur (verso 4); a palavra técnica usada para turbante que se refere à mitra sacerdotal e ao diadema contido na mesma (verso 5); e a confirmação da aliança (verso 7).
Zacarias 3:8 apresenta uma figura messiânica: “Ouve, pois, Josué, sumo-sacerdote, tu e os teus companheiros que se assentam diante de ti, porque são homens de presságio; eis que eu farei vir o meu servo, o Renovo”. A expressão “homens de presságio” deriva da palavra mophet (מופת) e quer dizer “sinal, símbolo, indicação de representatividade”. Portanto, Josué e seus sacerdotes eram símbolos; mas de que? O próprio verso diz que eles eram símbolos do “meu servo, o Renovo”.
A figura do Renovo, tsemah (צמח) em hebraico, é muito forte no Antigo Testamento, principalmente no livro do profeta Isaías, onde é possível elaborar uma teologia sólida deste termo. Este termo se refere ao Messias, e à obra do mesmo, em textos como Isaías 11 e 53, Isaías 42:1, 52:13 e 53:14 (onde o Messias é servo sofredor e enviado do Senhor) e Jeremias 23:5 e 33:15 (onde o Messias é descendente de Davi, portanto rei). Ainda é interessante notar que, na seção de Isaías 52:13 até 53:14, a idéia do rei e do servo sofredor se fundem. Em Zacarias, estas duas figuras representativas do Messias se agregam ainda à função sacerdotal.
Ele, a figura messiânica de Zacarias 3, é multifacetado: sacerdote, rei e servo sofredor.