Zacarias 3:1 começa dizendo: “Deus me mostrou o sumo sacerdote Josué, o qual estava diante do Anjo do Senhor, e Satanás estava à mão direita dele, para se lhe opor”. A imagem que o profeta está passando é a de um julgamento onde há o juiz (Anjo do Senhor), o acusador (Satanás) e o acusado (Josué, o sumo sacerdote). A presença do Anjo do Senhor e de Satanás deixa nítido que a cena se passa em um plano celestial.
No verso dois aparece: “Mas o Senhor disse a Satanás: O Senhor te repreende, ó Satanás; sim, o Senhor, que escolheu a Jerusalém, te repreende; não é este um tição tirado do fogo?” Parece haver uma clara ligação entre o Anjo de Senhor (malach Yhwh – מַלְאַ֣ךְ יְהֹוָ֑ה) do verso primeiro e o próprio Senhor do segundo verso (Yhwh – יְהֹוָ֑ה). Quanto ao “tição tirado do fogo”, podem-se fazer duas inferências interessantes: uma diz respeito ao cativeiro babilônico, ou seja, Israel havia sido liberto do cativeiro por DEUS (o cativeiro neste caso pode ser literal ou espiritual, visto ser Babilônia também um símbolo do pecado, muito embora pelo contexto histórico de Zacarias é mais comum inferir-se um contexto literal de cativeiro); outra diz respeito ao serviço do santuário, mais especificamente às brasas que ficavam sob o altar de incenso. Algo que também chama a atenção é que, no Dia da Expiação, Yom Kippur, o sumo-sacerdote deveria retirar as brasas do altar e colocá-las no incensário e levá-las para além do véu (Levítico 16:12-13).
O terceiro verso: “Ora, Josué, trajado de vestes sujas, estava diante do Anjo” é interessante porque coloca uma palavra que só aparece nos versos três e quatro de Zacarias 3, a palavra tsoim (צוֹאִ֑ים), que significa sujo, mas não no sentido de uma sujeira normal e sim de sujeira de excrementos humanos.
O verso quatro acrescenta a esta imagem: “Tomou este a palavra e disse aos que estavam diante dele: Tirai-lhe as vestes sujas. A Josué disse: Eis que tenho feito que passe de ti a tua iniqüidade e te vestirei de finos trajes.” A sujeira de Josué não foi limpa por ele, mas por uma ordem divina, e Josué agora coloca finos trajes, machalatsot (מַֽחֲלָצֽוֹת – “vestes festivas”) em hebraico. Um fator curioso é que no ritual do Yom Kippur, ao final do serviço (depois de haver enviado o bode para Azazel ao deserto), o sumo-sacerdote também trocava as suas roupas (Levítico 16:21-24). Outra ligação importante do verso quatro é que, a expressão “passe…iniqüidade”, é a mesma utilizada em Levítico 16:21, no contexto do dia da Expiação.
Ou seja: no contexto de Zacarias, a expiação se dá pela ação graciosa de DEUS e não por ação de justiça de Josué. A ligação entre Zacarias 3 e o serviço do santuário aponta para a realidade máxima dele: a ação graciosa de DEUS na salvação do Seu povo. Esse parece ser o contexto de Apocalipse 19:8, onde o Cordeiro veste Sua noiva de trajes finos, puros e festivos, logo após um julgamento.
ELE, de graça, me limpa e me troca.